Livro 1 - Conspiração
Arco I - Vilarejo Koonji
Cap. 05 - Lobo, Humano Lobo
Florestas Vermelhas, oitava hora do breu.
O grupo já estava caminhando a mais de uma hora. Em vários momentos eles paravam para verificar algumas pegadas e marcas em árvores. Quanto mais eles se aproximavam das Sanguinárias, mais escura a floresta se tornava. Porém em nenhum momento o grupo foi atacado por monstros.
Gwenh ia à frente guiando os companheiros, logo atrás ia o meio orc com seu machado pronto para uma luta, Vëon permanecia em silêncio durante todo o trajeto, talvez já se preparando, e por fim estava o apavorado Jacques. Antes de entrarem na floresta, Vëon entregou sua besta para o ladino, mas isso não era o suficiente para acalmar o jovem que partia em busca da morte.
No céu, a lua já estava inclinada para o lado, apenas mais três horas para o primeiro sol aparecer.
De repente eles chegaram, diante deles se erguia a segunda maior cadeia de montanhas do reinado: as Montanhas Sanguinárias. Era a primeira vez que Jacques chegava tão próximo das montanhas que tantas vezes ouviu seu pai contar histórias de terror, sobre monstros errantes e criaturas mágicas. Um lugar tão perigoso que nem mesmo a Tormenta havia conseguido chegar. E agora estava diante dele.
Não foi necessário, e Jacques até agradeceu, entrar nas Sanguinárias. À esquerda, uns dois metros acima do chão seguia uma trilha e ao fim dela estava à entrada da caverna.
Era uma caverna espaçosa, os quatro puderam entrar tranquilamente. O chão era coberto com uma espécie de palha e as paredes de pedra pura. Ao fundo havia um ninho formado com palha e cascas de árvores, ao lado estava o corpo de um alce das montanhas.
-Esse alce ainda está inteiro e com pelo, não deve ter mais que dois dias - comentou Morn- próximo à entrada e na floresta tem varias marcas de luta, e nesta parte aqui a palha esta mais amassada, eu diria que algo foi arrastado aqui.
-Então os lobos foram capturados aqui dentro e levados para a floresta. -falou Gwenh se dirigindo até a entrada- eles não devem estar muito longe daqui.
Jacques escalou mais um pouco em direção a uma pedra que se sobressaia. La de cima ele viu algo que chamou sua atenção.
-Ei, tem uma clareira com uma luz fraca a leste daqui. -avisou o ladino.
O grupo olhou para onde ele apontava, mas a neblina era densa demais.
-Você tem certeza disso? -perguntou o meio orc
-Deve ser alguma magia para que não possamos ver eles dentro da neblina, por isso não os notamos. -comentou Vëon- vamos seguir essa direção, ao menos é uma pista.
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Após caminharem por meia hora, o grupo começou a escutar sons parecidos com os de uma oração. Ao longe já era possível visualizar a clareira, fracamente iluminada por tochas com uma coloração esverdeada. Ao se aproximarem eles puderam visualizar melhor aquela estranha cena. Parecia um acampamento, havia quatro barracas menores vermelhas formando uma meia lua e uma barraca maior dourada. No centro da meia lua estava uma espécie de altar, onde havia dois filhotes de lobo amarrados, e ao redor quatro homens encapuzados com túnicas vermelhas. Ao lado, jogado em cima de uma pedra, jazia o corpo de um lobo macho adulto que exalava uma estranha fumaça roxa.
Os quatro encapuzados faziam uma espécie de cerimônia enquanto os lobos amarrados se contorciam e berravam. Para seus corpos emanava uma fumaça esverdeada que saia das tochas.
-Achamos. -sussurrou Morn
-Eles estão tentando possuir os dois filhotes da mesma forma que fizeram com a fêmea. -comentou o feiticeiro.
-Estes dois são machos, teremos problemas se eles conseguirem. -falou Gwenh.
-Mas então por que mataram o adulto? -questionou o orc.
-Talvez fosse forte demais para eles. -respondeu Vëon.
-Precisamos impedi-los. -falou o elfo, e virando para Jacques- Você consegue acertar um deles daqui?
-Acho que sim. -respondeu o ladino, preparando a besta que recebeu de Vëon.
-Ótimo, vamos disparar juntos, assim podemos derrubar dois antes que percebam. -disse Gwenh- No três...
Após a contagem ambos dispararam tiros perfeitos. Gwenh acertou a cabeça de um deles e Jacques as costas de outro. Instantaneamente um dos lobos parou de se debater e caiu morto. Essa era a chave.
Rapidamente Morn saltou de trás das árvores e investiu em direção aos sobreviventes, mas foi parado pelo outro lobo que pulou de cima do altar e o golpeou no peito. Vëon vinha atrás e não teve tempo de desviar do gigantesco corpo de Morn e acabou sendo derrubado.
-Precisamos matar os cultistas, esse é o modo mais rápido. -gritou Gwenh- Um dos dois está controlando a criatura.
Rapidamente o elfo investiu em direção aos cultistas, mas novamente o lobo impediu o caminho. Jacques decidiu tentar um ataque de longa distância com a besta, porém o lobo usou seu corpo como escudo, impedindo que os virotes atingissem o alvo.
Rapidamente Morn se atirou em direção a fera para um ataque corpo a corpo, enquanto Vëon e Gwenh seguiam em direção aos apavorados cultistas.
Um grito ecoou pela clareira quando o lobo abocanhou o ombro de Morn, deixando ele gravemente ferido. O meio orc caiu de joelhos diante do lobo, mas este o ignorou e partiu em direção aos dois que tentavam atacar os cultistas.
Mas já era tarde para um deles, Gwenh já o havia alcançado, e com um movimento rápido da espada ele dividiu a cabeça do inimigo. A criatura soltou um grito desesperado, mas não caiu, ainda faltava um cultista.
Vëon tentou acerta-lo com duas bolas de fogo, mas o lobo já os havia alcançado. Aproveitando esse momento, o cultista correu em direção à floresta, mas viu algo que o fez parar.
De dentro da floresta vinha em direção à clareira um vulto encapuzado com uma túnica dourada. Deveria ter quase três metros de altura. O cultista parecia aprovado.
-Mestre? É o senhor mesmo? Por favor, me ajude.
O homem caminhou até o cultista colocou uma das mãos na cabeça do homem e disse:
-Se acalme, eu estou aqui.
Sua voz era fria e grossa. Mais parecia o urro de um monstro do que a voz de um humano. Até mesmo Morn sentiu seu sangue congelar ao ouvir aquela voz.
-Mestre, o que aconteceu com o senhor?
-O Poder meu filho, isso é o poder.
E com um movimento rápido ele arrancou a cabeça de seu subordinado. No meio da clareira o lobo caiu imóvel, como que atingido por um tiro.
-Ah poder -disse o Mestre- puro e absoluto. O poder verdadeiro, que apenas Ele poderia proporcionar. Ainda não está completo, mas já posso senti-lo.
Ele se aproximou mais do grupo e a visão de seu corpo deixou todos apavorados. Seus olhos eram vermelhos como brasa, suas mãos eram garras afiadas e perigosas, manchadas com o sangue do cultista, e seu rosto estava adquirindo uma forma animalesca, com poderosas mandíbulas e presas de predador. Ele era um lobisomem.
Na outra ponta da clareira, o corpo morto do lobo adulto desaparecia, deixando apenas uma pequena fumaça roxa que rapidamente sumiu.
Continua ...
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